“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a
apoteose do sentimento; - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do
homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que
houve de mau na nossa sociedade.”
[Eça de Queirós]
A poesia do final da década de
1860 já anunciava o fim do Romantismo; escritores como Castro Alves,
Sousândrade e Tobias Barreto faziam uma poesia romântica na forma e na
expressão, mas os temas estavam voltados para uma realidade político-social. O
mesmo se pode afirmar de algumas produções do romance romântico, notadamente a
de Manuel Antônio de Almeida, Franklin Távora e Visconde de Taunay. Era o
pré-realismo que se manifestava.
Na década de 70 surge a
chamada Escola de Recife, com Tobias Barreto, Sílvio Romero e outros, aproximando-se
das idéias européias ligadas ao Positivismo, ao Evolucionismo e,
principalmente, à filosofia alemã. São os ideais do Realismo que encontravam
ressonância no conturbado momento histórico pelo Brasil, sob o signo do
abolicionismo, do ideal republicano e da crise da Monarquia.
Em 1857, o mesmo ano em que no
Brasil era publicado O guarani, de José de Alencar, na França é publicado
Madame Bovary, de Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance realista da
literatura universal. Em 1865, Claude Bernard publica Introdução à medicina
experimental, com uma tese sobre a hereditariedade. Em 1867 Émile Zola publica
Thérèse Raquin, inaugurando o romance naturalista.
No Brasil considera-se 1881
como o ano inaugural do Realismo. De fato, esse foi um ano fértil para a
literatura brasileira, com a publicação de dois romances fundamentais, que modificaram
o curso de nossas letras: Aluísio Azevedo publica O mulato, o primeiro romance
naturalista do Brasil; Machado de Assis publica Memórias póstumas de Brás Cubas,
o primeiro romance realista de nossa literatura.
Na divisão tradicional da
história da literatura brasileira, o ano considerado data final do Realismo é
1893, com a publicação de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Souza, obras
inaugurais do Simbolismo. No entanto, é
importante salientar que 1893 registra o início do Simbolismo, mas não o
término do Realismo e suas manifestações na prosa, com os romances realistas e
naturalistas, e na poesia, com o Parnasianismo.
Basta lembrar que Dom Casmurro, de Machado de Assis, é de 1900; Esaú e
Jacó, do mesmo autor, é de 1904. Olavo Bilac foi eleito “príncipe dos poetas”
em 1907. A Academia Brasileira de
Letras, templo do Realismo, é de 1897. O
movimento se estende até o início do século XX, quando Graça Aranha publica
Canaã, fazendo surgir uma nova estética: o Pré-Modernismo. Na realidade, nos
últimos vinte anos do século XIX e nos primeiros vinte anos do século XX, temos
três estéticas que se desenvolvem paralelas: o Realismo e suas manifestações, o
Simbolismo e o Pré-Modernismo, que só conhecem o golpe fatal em 1922, com a
Semana de Arte Moderna.
O Realismo reflete as
profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da Segunda
metade do século XIX. A Revolução
Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa nova fase, caracterizada pela
utilização do aço, do petróleo e da eletricidade; ao mesmo tempo o avanço
científico leva a novas descobertas nos campos da Física e da Química. O
capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o surgimento de grandes
complexos industriais; por outro lado, a massa operária urbana avoluma-se, formando
uma população marginalizada que não partilha dos benefícios gerados pelo
progresso industrial mas, pelo contrário, é explorada e sujeita a condições
subumanas de trabalho.
Esta nova sociedade serve de
pano de fundo para uma nova interpretação da realidade, gerando teorias de
variadas posturas ideológicas. Numa sequência cronológica temos o Positivismo
de Auguste Comte, preocupado com o real-sensível, o fato, defendendo o
cientificismo no pensamento filosófico e a conciliação da “ordem e progresso” (a
expressão, utilizada na bandeira republicana do Brasil, é de inspiração
comtiana); o Socialismo Científico de Karl Marx e Friedrich Engels, a partir da
publicação do Manifesto Comunista, em 1848, definindo o materialismo histórico
(“o modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social,
político e intelectual em geral” – K. Marx) e a luta de classes; o
Evolucionismo de Charles Darwin, a partir da publicação, em 1859, de A origem
das espécies, livro em que ele expõe seus estudos sobre a evolução das espécies
pelo processo de seleção natural, negando portanto a origem divina defendida
pelo Cristianismo.
O Brasil também passa por
mudanças radicais tanto no campo econômico como no político-social, no período
compreendido entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais, se
comparadas às da Europa. A campanha
abolicionista intensifica-se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/70)
tem como consequência o pensamento republicano – o Partido Republicano foi
fundado no ano em que essa guerra acabou –; a Monarquia vive uma vertiginosa
decadência. A Lei Áurea, de 1888, não
resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade. O fim da mão-de-obra escrava e a sua
substituição pela mão-de-obra assalariada, então representada pelas levas de
imigrantes europeus que vinham trabalhar na lavoura cafeeira, originou uma nova
economia voltada para o mercado externo, mas agora sem a estrutura
colonialista.
É nesse contexto sócio-político-científico
que surgem o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. Os temas, opostos
àqueles do Romantismo, não mais engrandecem os valores sociais, mas os combatem
ferozmente. A ambientação dos romances se dá, preferencialmente, em locais
miseráveis, localizados com precisão; os casamentos felizes são substituídos
pelo adultério; os costumes são descritos minuciosamente com reprodução da
linguagem coloquial e regional. A alteração do quadro social e cultural exigia
dos escritores outra forma de abordar a realidade: menos idealizada do que a
romântica e mais objetiva, crítica e participante. Contudo há semelhanças e diferenças entre
essas correntes. As semelhanças residem
na objetividade, na luta contra o Romantismo e no gosto por descrições
minuciosas.
Características
As características do Realismo
estão intimamente ligadas ao momento histórico, refletindo, dessa forma, a
postura do Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo, com todas as suas
variantes. Assim é que o objetivismo aparece como negação do subjetivismo
romântico e nos mostra o homem voltado para aquilo que está diante e fora dele,
o não-eu; o personalismo cede terreno para o universalismo. O materialismo leva
à negação do sentimentalismo e da metafísica.
O nacionalismo e a volta ao
passado histórico são deixados de lado; o Realismo só se preocupa com o
presente, o contemporâneo.
Influenciados por Hypolite
Taine e sua Filosofia da arte, os autores realistas são adeptos do
determinismo, segundo o qual a obra de arte seria determinada por três fatores:
o meio, o momento e a raça – esta, no que se refere à hereditariedade. O avanço
das ciências, no século XIX, influencia sobremaneira os autores da nova
estética, principalmente os naturalistas, donde se falar em cientificismo nas
obras desse período.
Ideologicamente os autores
desse período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal
republicano, como se observa na leitura de romances como O mulato, O cortiço e
O Ateneu, por exemplo. Negam a burguesia
a partir da célula-mãe da sociedade: a família; eis por que os sempre presentes
triângulos amorosos, formados pelo pai traído, a mãe adúltera e o amante, que é
sempre um “amigo da casa”; para citarmos apenas exemplos famosos de Machado de
Assis, eis alguns triângulos:
Bentinho/Capitu/Escobar; Lobo Neves/Virgília/Brás Cubas; Cristiano
Palha/Sofia Palha/Rubião. São anticlericais, destacando-se em suas obras os
padres corruptos e a hipocrisia de velhas beatas.
Finalmente é importante
salientar que Realismo é denominação genérica da escola literária, sendo que
nela se podem perceber três tendências distintas, expostas a seguir.
Romance
Realista
Cultivado no Brasil por Machado
de Assis, é uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a
crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. É interessante constatar que os cinco
romances da fase realista de Machado apresentam nomes próprios em seus títulos
– Brás Cubas; Quincas Borba; D. Casmurro; Esaú e Jacó; Aires –, revelando clara
preocupação com o indivíduo.
O romance realista analisa a
sociedade “por cima”, ou seja, seus personagens são capitalistas, pertencem à
classe dominante; mais uma vez nos voltamos para a obra de Machado e percebemos
que Brás Cubas não produz, vive do capital, o mesmo acontecendo com Bentinho;
já Quincas Borba era louco e mendigo até receber uma herança; o único dos
personagens centrais de Machado que trabalhava era Rubião (professor em Minas),
mas recebe a herança de Quincas Borba, muda-se para o Rio e não trabalha mais,
vivendo do capital. O romance realista é documental, retrato de uma época.
Outro tratamento típico é a
caracterização psicológica das personagens que têm seus retratos compostos
através da exposição de seus pensamentos, hábitos e contradições, revelando a
imprevisibilidade das ações e construção das personagens, retratadas no romance
psicológico dos escritores Raul Pompéia e Machado de Assis.
Observe o trecho abaixo:
Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a
mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da
beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor
sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não
digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da
natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a
outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara,
faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e
alguma devoção, - devoção, ou talvez medo; creio que medo. (ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás
Cubas. São Paulo, Scipione, 1994. p. 45)
Podemos notar todo o estilo
irônico do autor, aqui com suas baterias voltadas contra as idealizações
românticas que haviam moldado o gosto do público leitor. Repare que Machado parte
de uma adjetivação que nos leva a montar um perfil da heroína romântica (a mais
atrevida, a mais voluntariosa, bonita, fresca, carregada de feitiço, faceira)
para só num segundo momento provocar a ruptura: ignorante, pueril, preguiçosa.
Romance Naturalista
Cultivado no Brasil por
Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de
Souza e Manuel de Oliveira Paiva; o caso de Raul Pompéia é muito particular,
pois seu romance O Ateneu ora apresenta características naturalistas, ora realistas,
ora impressionistas.
A narrativa naturalista é
marcada pela forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados,
valorizando o coletivo; interessa também notar que os títulos dos romances
naturalistas apresentam a mesma preocupação: O mulato, O cortiço, Casa de
pensão, O Ateneu. Há inclusive, sobre o
romance O cortiço, a tese de que o principal personagem não é João Romão, nem
Bertoleza, nem Rita Baiana, nem Pombinha, mas sim o próprio cortiço ou, como
afirma Antônio Candido, “o romance é o
nascimento, vida, paixão e morte de um cortiço”. Sob um certo ponto de vista, o mesmo poderia
ser dito sobre o colégio Ateneu (os dois romances se encerram com a destruição
dos prédios, abrigos coletivos).
Assim, o romance sob a
tendência naturalista manifesta preocupação social e focaliza personagens
vivendo em extrema pobreza, exibindo cenas chocantes. Sua função é de crítica
social, denúncia da exploração do homem pelo homem e sua brutalização.
A hereditariedade é vista como
rigoroso determinismo a que se submetem as personagens, subordinadas, também,
ao meio que lhes molda a ação, ficando entregues à sensualidade, à sucessão dos
fatos e às circunstâncias ambientais. Além de deter toda sua ação sob o senso
do real, o escritor deve ser capaz de expressar tudo com clareza, demonstrando
cientificamente como reagem os homens, quando vivem em sociedade.
Por outro lado, o naturalismo
apresenta romances experimentais; a influência de Darwin se faz sentir na
máxima naturalista segundo a qual o homem é um animal; portanto, antes de usar
a razão, deixa-se levar pelos instintos naturais, não podendo ser reprimido em
suas manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da classe
dominante. A constante repressão leva às
taras patológicas, tão ao gosto naturalista; em consequência, esses romances
são mais ousados e erroneamente tachados por alguns de pornográficos,
apresentando descrições minuciosas de atos sexuais, tocando, inclusive, em
temas então proibidos, como o homossexualismo: tanto o masculino, como em O
Ateneu, quanto o feminino, em O cortiço.
O principal autor naturalista
no Brasil é Aluísio Azevedo. O determinismo social predomina em sua obra,
construída através de observação rigorosa do mundo físico e da zoomorfização
das personagens.
Observe o texto abaixo:
Ana Rosa, com efeito, de algum tempo a essa parte, fazia visitas ao quarto de Raimundo,
durante a ausência do morador.
Entrava
disfarçadamente, fechava as rótulas da janela, e, como sabia que o morador não
aparecia àquela hora, começava a bulir nos livros, a remexer nas gavetas
abertas, a experimentar as fechaduras, a ler os cartões de visita e todos os
pedacinhos de papel escrito, que lhe caíam nas mãos. Sempre que encontrava um lenço já servido, no
chão ou atirado sobre a cômoda, apoderava-se dele e cheirava-o sofregamente, como
fazia também com os chapéus de cabeça e com a
travesseirinha da cama.
Estas bisbilhotices
deixavam-na caída numa enervação voluptuosa e doentia, que lhe punha no corpo
arrepios de febre.
(AZEVEDO, Aluísio. O mulato. 19.
ed. São Paulo, Martins Fontes, 1974. p. 121)
É importante ressaltar que a
personagem Ana Rosa, criada segundo alguns “caprichos românticos e fantasias
poéticas”, não resiste à força da atração física que Raimundo lhe desperta,
chegando a invadir o quarto do rapaz. O
importante é notar como a moça é dominada pelos instintos; como se fosse um
animal, “lê” o mundo por meio dos sentidos (ela “conhece” o rapaz pelo cheiro
que ele imprimiu nos objetos); a excitação provoca reações físicas (enervação
voluptuosa, febre), transformando-se num caso patológico, doentio.
“... E viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia,
surgir de ombros e braços nus, para dançar. A lua destoldara-se nesse momento,
envolvendo-a na sua coma de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça se
acentuavam, cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda de
pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e muito de mulher. Ela saltou em
meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça,
ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal,
num requebrado luxurioso que a punha ofegante; já correndo de barriga empinada;
já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se fosse afundando num
prazer grosso que nem azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo.
Depois, como se voltasse à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os
dedos no ar e vergando as pernas, descendo, subindo, sem nunca parar com os
quadris, e em seguida sapateava, miúdo e cerrado, freneticamente, erguendo e
abaixando os braços, que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a
carne lhe fervia toda, fibra por fibra, tirilando. (...)
O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando aos que
não sabiam dançar. Mas, ninguém como a Rita; só ela, só aquele demônio tinha o
mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles requebros que
não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce,
quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante."
(Aluísio Azevedo – O cortiço - 1890)
Observação: Observamos
que há vários pontos de coincidência entre o romance realista e o naturalista;
diríamos até que ambos partem de um mesmo ponto x e ambos chegam a um mesmo
ponto y, só que percorrendo caminhos diversos.
Tanto um como outro atacam a monarquia, o clero e a sociedade
burguesa. Inclusive, podemos encontrar,
num mesmo autor, determinadas posturas mais realistas convivendo com enfoques
mais naturalistas. É o caso de O Ateneu, citado acima. Eça de Queirós, em
Portugal, é outro exemplo significativo: alguns críticos o consideram realista,
outros classificam-no como naturalista.
Poesia
Parnasiana
Preocupada com a forma e a
objetividade; a “arte pela arte”, com seus sonetos alexandrinos perfeitos. Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de
Oliveira formam a Trindade Parnasiana.
O soneto, a métrica
alexandrina (12 sílabas poéticas), a rima rica, rara e perfeita, tudo isso se
contrapondo aos versos livres e brancos dos românticos. Em suma, é o
endeusamento da Forma.
Profissão de Fé
(fragmento)
Invejo
o ourives quando escrevo:
Imito
o amor
Com
que êle, em ouro, o alto-relêvo
Faz
de uma flor.
Imito-o.
E, pois, nem de Carrara
A
pedra firo:
O
alvo cristal, a pedra rara,
O
onix prefiro.
Por
isso, corre, por servir-me,
Sôbre
o papel
A
pena, como em prata firme
Corre
o cinzel.
Corre;
desenha, enfeita a imagem,
A
idéia veste:
Cinge-lhe
ao corpo a ampla ropagem
Azul
celeste.
Torce,
aprimora, alteia, lima
A
frase; e, enfim,
No
verso de ouro engasta a rima,
Como
um rubim.
Quero
que a estrofe cristalina,
Dobrada
ao jeito
Do
ourives, saia da oficina
Sem
um defeito:
E
que o lavor do verso, acaso,
Por
tão sutil,
Possa
o lavor lembrar de um vaso
De
Becerril.
E
horas sem conto passo, mudo,
A
olhar atento,
A
trabalhar, longe de tudo
O
pensamento.
Porque
o escrever --tanta perícia,
Tanta
requer,
Que
ofício tal... nem há notícia
De
outro qualquer.
Assim
procedo. Minha pena
Segue
esta norma,
Por
te servir, Deusa serena,
Serena
Forma!
Deusa!
A onda vil, que se avoluma
De
um tôrvo mar,
Deixa-a
crescer, e o lôdo e a espuma
Deixa-a
rolar!
Blasfemo,
em grita surda e horrendo
Ímpeto,
o bando
Venha
dos Bárbaros crescendo,
Vociferando...
Deixa-o:
que venha e uivando passe
--Bando
feroz!
Não
se te mude a côr da face
E
o tom da voz!
Olha-os
sòmente, armada e pronta,
Radiante
e bela:
E,
ao braço o escudo, a raiva afronta
Dessa
procela!
Êste
que à frente vem, e o todo
Possui
minaz
De
um Vândalo ou de um Visigodo
Cruel
e audaz;
Êste,
que, de entre os mais, o vulto
Ferrenho
alteia,
E,
em jacto, expele o amargo insulto
Que
te enlameia:
É
em vão que as forças cansa, e à luta
Se
atira; é em vão
Que
brande no mar a maça bruta
À
bruta mão
Não
morrerás, Deusa sublime!
Do
trono egrégio
Assistirás
intacta ao crime
Do
sacrilégio
E,
se morreres porventura,
Possa
eu morrer
Contigo,
e a mesma noite escura
Nos
envolver!
(Rio
de Janeiro, julho 1886, Olavo Bilac)
Atividades
01. O realismo foi um movimento de:
a) volta ao passado;
b) exacerbação ultra-romântica;
c) maior preocupação com a objetividade;
d) irracionalismo;
e) moralismo.
02. A respeito de Realismo, pode-se afirmar:
I – Busca o
perene humano no drama da existência .
II – Defende a
documentação de fatos e a impessoalidade do autor perante a obra.
III – Estética literária restritamente brasileira; seu
criador é Machado de Assis.
a) São corretas apenas II e III.
b) Apenas III é correta.
c) As três afirmações são corretas.
d) São corretas I e II.
e) As três informações são incorretas.
03. Considerando-se iniciado o movimento realista no
Brasil quando:
a) Aluísio de Azevedo publica O Homem.
b) José de Alencar publica Lucíola.
c) Machado de Assis publica Memória Póstumas de Brás
Cubas.
d) As alternativas a e c são válidas.
e) As alternativas a e b são válidas.
04. O realismo, como escola literária, é caracterizado:
a) pelo exagero da imaginação;
b) pelo culto da forma;
c) pela preocupação com o fundo;
d) pelo subjetivismo;
e) pelo objetivismo.
05. Podemos verificar que o Realismo revela:
I – senso do
contemporâneo. Encara o presente do mesmo modo que romantismo se volta para o passado
ou para o futuro.
II – o retrato da
vida pelo método da documentação, em que a seleção e a síntese operam buscando
um sentido para o encadeamento dos fatos.
III – técnica minuciosa, dando a impressão de lentidão,
de marcha quieta e gradativa pelos meandros dos conflitos, dos êxitos e dos
fracassos.
Assinale:
a) se as afirmativas II e III forem corretas;
b) se as três afirmativas forem corretas;
c) se apenas a afirmativa III for correta;
d) se as afirmativas I e II forem corretas;
e) se as três afirmativas forem incorretas.
06. Das características abaixo, assinale a que não
pertence ao Realismo:
a) Preocupação critica.
b) Visão materialista da realidade.
c) Ênfase nos problemas morais e sociais.
d) Valorização da Igreja.
e) Determinismo na atuação das personagens.
07. Assinale a
única alternativa incorreta:
a) O Realismo não tem nenhuma ligação com o Romantismo.
b) A atenção ao detalhe é característica do Realismo.
c) Pode-se dizer que alguns autores românticos já possuem
certas características realistas.
d) O cientificismo do século XIX forneceu a base da visão
do mundo adotada, de um modo geral, pelo Naturalismo.
e) O Realismo apresenta análise social.
08. No texto a seguir, Machado de Assis faz uma crítica
ao Romantismo: Certo não lhe falta imaginação; mas esta tem suas regras, o
astro, leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras é porque as
fazem novas, é porque se chama Shakespeare, Dante, Goethe, Camões.
Com base nesse texto, notamos que o autor:
a) Preocupa-se com princípios estéticos e acredita que a
criação literária deve decorrer de uma elaborada produção dos autores.
b) Refuga o Romantismo, na medida em que os autores desse
período reivindicaram uma estética oposta à clássica.
c) Entende a arte como um conjunto de princípios
estéticos consagrados, que não pode ser manipulado por movimentos literários
específicos.
d) Defende a idéia de que cada movimento literário deve
ter um programa estético rígido e inviolável.
e) Entende que Naturalismo e o Parnasianismo constituem
soluções ideal para pôr termo à falta de invenção dos românticos.
09. Examine as frases abaixo
I – Os
representantes do Naturalismo faze aparecer na sua obra dimensões metafísica do
homem, passando a encará-lo como um complexo social examinando à luz da
psicologia.
II – No
Naturalismo, as tentativas de submeter o Homem a leis determinadas são consequências
das ciências, na segunda metade do século XIX.
III – Na seleção de “casos” a serem enfocados, os
naturalistas demonstram especial aversão pelo anormal e pelo patológico.
Pode-se dizer corretamente que:
a) só a I está certa;
b) só a II está certa;
c) só a III está certa;
d) existem duas certas;
e) nenhuma está certa.
10. Das citações apresentadas abaixo, qual não apresenta,
evidentemente, um enfoque naturalista?
a) Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um
cheiro acre de sabão da terra e aguardente.
b) ... as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o
tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas
opulentas.
c) Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que
pareciam gemidos humanos.
d) ... batiam-lhe com a biqueira do chapéu nos ombros e
nas coxas, experimentando-lhes o vigor da musculatura, como se estivesse a
comprar cavalos.
e) À porta dos leilões aglomeravam-se os que queriam
comprar e os simples curiosos.
11. O mesmo da questão anterior:
a) Viam-se deslizar pela praça os imponentes e
monstruosos abdomes dos capitalistas.
b) ... viam-se cabeças
escarlates e descabeladas, gotejando suor por debaixo do chapéu de pêlo.
c) O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a
sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço.
d) A Praia Grande, a Rua da Estrela contrastavam todavia
com o resto da cidade, porque era aquela hora justamente a de maior movimento
comercial.
e) ... uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de
madeira, sujo, seboso, chio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas...
12. Com relação ao realismo, é válido afirmar que:
a) analisa o ser humano do ponto de vista estritamente
psicológico, isolando-o do meio social.
b) valoriza e introduz na literatura elementos
tipicamente brasileiros
c) apresenta exagerada preocupação formal, que se revela
na busca de palavras ricas em sugestões sensoriais
d) idealiza a personagem feminina, que é apresentada como
um ser excepcional de rara beleza
e) procura analisar com objetividade e senso crítico os
problemas sociais
13. Quando dizemos: análise da pessoa como ser totalmente
produto de momento/raça/meio, sem probabilidade de reação subjetiva; tentativa
de consertar uma sociedade tida como degenerada são aspectos de que movimento
literário?
a) realismo
b) romantismo
c) modernismo
d) naturalismo
e) pré-modernismo
14. Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira:
1) Auguste Comte
2) Charles Darwin
3) Hippolite Taine
4) Karl Marx
a) autor da teoria
do determinismo: o homem é produto do meio (
)
b) representante do socialismo científico ( )
c) em 1859, publica “Origem das espécies” trabalhando o
evolucionismo ( )
d) representante do positivismo ( )
15. Sobre o realismo pode-se afirmar, exceto:
a) o realismo predomina sobre o romantismo na 2ª metade
do século XIX
b) realismo e modernismo, no fundo, tinham as mesmas
reivindicações
c) são causas do realismo o progresso da ciência e o
esgotamento do romantismo
d) os escritores realistas pretendiam reformar a vida
social através de seus textos
e) para o realismo-naturalismo o comportamento humano é
determinado pelo meio
16. Todas as características citadas a seguir referem-se
ao realismo, exceto:
a) predomínio da observação atenta da realidade social
b) liberdade aos vôos da imaginação emotiva
c) crítica da sociedade burguesa
d) denúncia de problemas sociais
e) proposta de uma representação mais objetiva e fiel da
vida humana
17. No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a
personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis
anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais
voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as
mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a
realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe
maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das
mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo
passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação”.
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio
de Janeiro: Jackson,1957.
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador
ao romantismo está transcrita na alternativa:
a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às
sardas e espinhas ...
b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça
...
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia
daquele feitiço, precário e eterno,...
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis
anos...
e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins
secretos da criação.
18. Qual é o romance considerado marco inicial do
realismo no Brasil?
a) Dom Casmurro, de Machado de Assis
b) Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
c) O Cortiço, de Aluísio Azevedo
d) O Ateneu, de Raul Pompéia
e) O Mulato, de Aluísio Azevedo