terça-feira, 2 de março de 2010

Capitães da Areia, de Jorge Amado





Publicado em 1937, o livro retrata a vida de menores abandonados, os "capitães da areia", nome pelo qual eram conhecidos os "meninos de rua" na cidade de Salvador dos anos 30.
Retrata-os os meninos como moleques atrevidos, malandros, espertos, famintos, ladrões, agressivos, falsos, soltos de língua, carentes de afetos, de instrução, de comida.
O livro é dividido em três partes. Antes delas, no entanto, vem uma seqüência de pseudo-reportagens, que caracterizam-nos e mostram diversas visões sobre o caso.


Primeira parte:

Conta algumas histórias quase independentes sobre alguns dos principais Capitães de Areia (o grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado, mas tinha líderes).
O ápice da primeira parte vem em dois momentos: quando os meninos se envolvem com um carrossel mambembe que chegou na cidade, e experimentam as sensações infantis; e quando a varíola ataca a cidade e acaba matando um deles, apesar da tentativa do padre José Pedro em ajudá-los, e tendo grandes embaraços por causa disso.


Segunda parte:

Sub-titulada de "Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos", relata a história de amor que surge quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã da Areia". Apesar de inicialmente os garotos tentarem estuprá-la, ela torna-se qual uma mãe ou irmã para todos.
Ela e Pedro são capturados e muito castigados. Conseguindo fugir, bastante enfraquecidos, amam-se pela primeira vez numa praia, e ela morre - episódio que marca o começo do fim para os principais membros do grupo.


Terceira parte:

Mostra a desintegração dos líderes. Sem-Pernas se mata antes de ser capturado pela polícia que odeia; Professor parte para o Rio de Janeiro onde torna-se um pintor de sucesso, entristecido com a morte de Dora; Gato se torna uma malandro de verdade, abandonando eventualmente sua amante Dalva, e passando por Ilhéus; Pirulito se torna frade; Padre José Pedro finalmente consegue uma paróquia no interior, e vai para lá ajudar os desgarrados do rebanho do Sertão; Volta Seca se torna um cangaceiro do grupo de Lampião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado e condenado; João Grande torna-se marinheiro; Boa-vida continua sua vida de capoeirista e malandro; Pedro Bala, cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os doqueiros e finalmente os Capitães de Areia ajudam numa greve. Pedro Bala abandona a liderança do grupo, mas antes os transforma numa espécie de grupo de choque. Assim Pedro Bala deixa de ser o líder dos Capitães de Areia e se torna um líder revolucionário comunista.


Personagens:

•Pedro Bala, o líder, uma espécie de pai para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros, e depois descobre ser filho de um líder sindical morto durante uma greve;
•Volta Seca, afilhado de Lampião, que tem ódio das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro;
•Professor, que lê e desenha vorazmente, sendo muito talentoso;
•Gato, que com seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta, Dalva;
•Sem-Pernas, o garoto coxo que serve de espião se fingindo de órfão desamparado (e numa das casas que vai é bem acolhido, mas trai a família ainda assim, mesmo sem querer fazê-lo de verdade);
•João Grande, o "negro bom" como diz Pedro Bala, segundo em comando;
•Querido-de-Deus, um capoeirista que é só amigo do grupo;
•Pirulito, tem grande fervor religioso.
•Dora, parecia uma mulherzinha, era muito séria, cuidou de sua mãe quando esta estava doente e depois da morte de sua mãe cuidou de seu irmão, Zé Fuinha; quase foi estuprada pelos meninos Capitães de Areia, mas foi salva por João Grande, Professor e Pedro Bala, que depois percebeu que ela era apenas uma menina; sendo assim, entrou para o grupo dos Capitães de Areia e logo se apaixonou por Pedro Bala; quando os dois foram pegos pela polícia, ela é levada para o orfanato e ele para o reformatório, logo conseguiram fugir e antes de morrer, ela se entregou para Pedro; quando ela morre o grupo começa a se desfazer, cada um vai para um lado;


Análise:

No fundo, o que o SR: Jorge Amado tenta passar, é que cada menino dos Capitães de Areia tenta preencher o vazio de carinho e amor de mãe como pode. Pirulito descobriu Deus para lhe transmitir um pouco desse carinho; Gato descobriu Dalva, uma mulher já feita, muito mais velha que ele, que lhe dava prazer todas as noites; Volta-Seca no seu padrinho, Lampião, que lhe permitia sonhar que um dia se juntaria a ele e juntos lutariam contra o sistema; e assim por diante. Contudo, a realidade é que por mais que eles tentem, esse carinho de mãe não pode ser substituído e que há sempre aquele espaço vazio nos seus corações, o que os leva a continuar a conduzir a vida, na maior parte dos casos, pela criminalidade. Mostra também que o problema desses meninos faz parte da nossa realidade e que não são todas as pessoas que se preocupam com isso, tratando esses meninos como delinqüentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário